sábado, 27 de março de 2010

Minha história com Renato Russo

Hoje vim prestar minha homenagem ao poeta do rock, Renato Russo (27/03/1960 - 11/10/1996).

Poucos dos novos sabem que faço parte da adoração messiânica à Legião Urbana.
Quanto aos antigos, já me ligaram hoje para saber se eu vi as matérias nos sites.

Hoje, dia 27 de Março, ele estaria comemorando 50 anos de idade :-)

A Legião não é, simplesmente, uma banda de rock nacional qualquer. Pra mim ela é a descoberta de um novo mundo.
Me lembro, quando ainda pequena, que ouvia aquela voz grave berrando nas rádios e me arrepiava. Não entendia o que ele queria dizer com "Geração Coca-Cola", mal sabendo que eu também fazia parte dela.
Em 1989 com o quarto álbum da banda, As Quatro Estações, eu já entendia tudo e já sabia todas as letras. Aquela guitarra simples do Dado, as batidas quase previsíveis do Bonfá e os gritos do Renato se desenvolviam com o passar dos anos. Eles ficavam cada vez melhores, as letras cada vez melhores e o público cada vez mais legionário.

Foi nessa época que conheci o rock n roll.
Não existia internet para pesquisar, então minhas fontes eram capas de revistas, televisão e rádio. Ponto!
Via na mídia as camisetas de banda que o Renato usava e comprava as revistas de rock para saber quem era aquele "cara" estampado na camiseta do Renato, ou que banda era aquela.
Beatles eu já conhecia. E quem não conhecia?
Assim fui conhecendo os maiores nomes do rock mundial... "Sex Pistols. Isso é punk? O que mais é punk?"
Fui conhecendo, lendo... mas achava o punk muito agressivo. Preferia a "reinvenção" da Legião Urbana.
Comecei a ouvir mais variantes do rock e, por fim, descobri que era disso que eu gostava.
Meu negócio era guitarra e muitos berros.
Claro, com o amadurecimento, você vai ouvindo tudo e conhecendo música de uma forma geral. Mesmo porque meus pais ouviam músicas dos anos 70, pop 80 e música de raiz.
Desde que me descobri como ser pensante, eu sou alucinada por música.

A Legião me apresentou um outro mundo.
Eu e meus amigos da época, alguns presentes até hoje, ouvíamos muito e tínhamos cada vinil como relíquia.
E com o passar dos anos já compreendíamos como estava se sentindo o nosso Trovador Solitário. Sabíamos se ele estava caminhando com sexo, com as drogas, com rock n roll, ou com sua solidão. E os momentos intrínsecos dele eram super pesados. A gente podia sentir o que ele sentia.

Quando ele resolveu sair do armário já estava numa outra fase. Já sabíamos que ele era soropositivo, gay, alcoolatra e o maior poeta do Brasil. Não nos importava se ele gostava de "Meninos ou Meninas" ou se "Estrani Amore" era o que ele sentia.
A força legionária continuava lá.
Vinhamos sentindo que o Renato estava mais na esquiva do que o normal. Não aparecia mais em tv, quase não fazia shows, gravava álbuns melancólicos e dava uma ou outra entrevista para a Mtv ou revista.

Lembro como se fosse ontem.
Em 1996 minha mãe se sentou na beira da minha cama por volta das 10h da manhã acarinhando meu cabelo: "Filha, acorda. Você está acordada? A mãe precisa te dar uma notícia que vai te deixar muito triste."
Eu acordei devagar, ouvi minha irmã mais velha aos prantos e perguntei: "O que aconteceu? Quem morreu? Não foi o Renato Russo não, né?"

O silêncio da minha mãe foi mortal.
Em questão de 5 minutos o telefone da minha casa começou a tocar. Meus amigos estavam preocupados em como eu havia recebido essa notícia, se eu já estava sabendo ou se eu estava bem. Minha mãe foi incisiva o telefone: "Elas não estão bem. Liguem mais tarde."

Eu fiquei revoltada.
Quebrei um monte de vinil (sobrou só alguns) e rasguei matérias. Por pouco não destruí tudo. Minha mãe correu guardar os CDs e um poster (que hoje está num quadro em casa), afinal pagamos caro por cada um e ela sabia que eu me arrependeria depois.
Mãe sempre tem razão.

No fim de semana seguido do falecimento, eu tomei o maior porre da minha vida.
Chorei por meses.
Virei alvo de chacota de alguns imbecis da escola... "Lá vem a menina de preto chorando por causa do viado".
Na verdade eu cagava pra eles. Cagava um monte!
Eu queria que aquela saudade se transformasse em algo bom.
E seguindo os anos, isso aconteceu.

Comecei a guardar novas matérias, colecionar novos Cds lançados em homenagem, revistas, posters, etc.
Hoje, meu amor por esse cara e essa banda continua. No auge dos meus 30 anos eles continuam me dizendo o que eu preciso ouvir.
Eles me entendem melhor que Clarice Lispector ou Freud... rs.


Fim do ano passado fui fazer um trabalho em Brasília (DF).
Duas amigas que moram lá, Jubby e Fabiana, me avisaram que teria o evento "Porão do Rock".
Topei assistir o show.
Estava rolando Paralamas do Sucesso. Foi bem legal.
De repente olho no telão e quem está sendo homenageado? Claro, o "Rei Nato", como diz Paulo Ricardo (RPM).
As lágrimas já brotavam nos meus olhos. Que saudade! E eu estava na cidade dele!!
Haveria uma banda surpresa naquela noite.
Na hora eu matei: "O Bonfá e o Dado vão tocar!!!!"
Eu quase morri.
Chorei como se eu tivesse 5 anos de idade, mas me senti melhor quando notei que a platéia inteira presente chorava como eu... "Ufa! Não estou sozinha nessa."

Liguei na hora pra minha irmã, que mora em Sorocaba (SP), pra dar a notícia de onde eu estava... quase morreu ao ouvir o que eu disse.
Minha amiga Fabi chorava ao me ver chorando... ahahaha. Coitada.
O último show da Legião Urbana foi em 1995.

Quarta-feira dessa semana, 24.
Quando li num site que o Bonfá e o Dado estariam no programa Altas Horas comemorando o aniversário do Renato Russo, eu fiquei enlouquecida.
Eu liguei na produção do programa e conversei com a produtora.
Ela ficou muito tempo ouvindo minha história, pediu meu telefone e disse que me ligaria pra tentar me encaixar na gravação do programa.

Na quinta-feira, 25, eu descobri que meu joelho estava deslocado
Fui ao médico colocá-lo no lugar e voltei com a perna engessada, cheia de dor.

Na sexta-feira, 26, as 16 horas, a produtora do Altas Horas me liga - "Juliana? Tudo bem? Aqui é fulana do Altas Horas. Onde você está?"
Eu gaguejei e disse que estava em São Bernardo.
"Então vem pra cá agora! Eu consegui um lugar especial pra você. Você é fã, não pode perder!"

Isso foi ontem, 26.
Minha perna continua engessada...
Não tinha grana pro táxi, não tinha carona pra ir até lá e não podia pegar ônibus.
Não fui na gravação.

Perdi a comemoração de aniversário do meu poeta, não estive presente na primeira aparição da banda na tv sem o Renato... Meu coração estava em frangalhos ontem. E hoje também, porque assistirei pela tv com a dor de "era pra eu estar lá".

Nada é por acaso também.
Já foi.

Hoje, dia 27, ele completaria 50 anos de idade.
E completa, digamos assim. Seu legado continua entre nós.

Sei que foi extenso e peço desculpas.
É que há mais de 10 anos que eu não lembrava dele com tanta força.

Força sempre :-)


Esse vídeo foi gravado no Rio em 1994. Um dos últimos shows.
Sempre se esquecendo das letras...rs.
ÍNDIOS.

2 comentários:

  1. Mas também, Índios é o tipo de letra que a gente seeempre erra alguma coisa, ahaha

    Menina, não fazia ideia desse fanatismo. Que barralidar com a notícia da morte e, anos depois, não poder ir à apresentação ».«
    Força Ju

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  2. Que relato bacana o teu. Encontrei teu blogger através do fernandaguedes.blogspot.
    Acho dificil encontrar quem não gosta de legião. Existem os que sabem acompanhar umas letras, os que odeiam e os que amam tudo o que ele escrevia.
    Já passei por todas essa fases. Cheguei a esconder cds "O descobrimento do Brasil"do meu irmão de tanto que ele ouvia e eu odiava. Isso a uns 13 anos atras. Hoje tenho todos os cds. As musicas de legião trazem grandes e boas lembranças... abraços

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